Desde cedo, Rafael Braga sempre foi apaixonado pelo universo dos videogames. Ele recorda com carinho os momentos passados em locadoras, onde se encantava com os jogos e consoles que, na época, pareciam artefatos quase místicos. Quando criança, Rafael não tinha acesso direto aos videogames ou computadores em seu lar, mas encontrava formas criativas de viver sua paixão: como colecionar tampinhas de garrafa para criar seus próprios jogos de tabuleiro. Essa inquietação criativa nas pequenas coisas já indicava o seu interesse pelo design e pela criação.

Durante a faculdade, Rafael se deparou com um cenário em que a formação em jogos digitais no Brasil ainda era limitada. As opções eram escassas, com a PUC sendo uma das poucas universidades a oferecer um curso específico para a área. No entanto, ele não conseguiu ingressar na instituição, o que o levou a escolher o caminho do design gráfico. Apesar disso, o desejo de criar jogos permaneceu constante em sua vida, fazendo com que inserisse a temática de jogos em seus trabalhos de graduação. Mesmo sem concluir o curso de design gráfico, o que aprendeu foi essencial para ele trabalhar como arte-finalista em gráficas, o que o colocou em contato com o mundo profissional do design.
Aos 24 anos, enquanto trabalhava em uma gráfica, ele se dedicava nas horas vagas a estudar “pixel art”, uma forma de arte digital que se tornaria sua principal expressão artística. Nesse período, Rafael começou a colaborar com uma equipe de desenvolvimento de jogos da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), a Xondaro, que estava criando um jogo inspirado na obra do escritor Machado de Assis. Esse projeto foi o primeiro marco de sua jornada profissional no universo dos games, inicialmente encarado como um hobby, mas que logo se transformaria em algo mais significativo.
Em 2019, Rafael teve a oportunidade de participar da PerifaCon, uma convenção de quadrinhos que exalta a cultura periférica que o conectou com outros profissionais que, assim como ele, viam nos jogos uma ferramenta poderosa para expressar questões sociais e culturais. Foi nesse evento que ele conheceu Tainá Félix, uma das pioneiras do movimento Afro Games, que o fez refletir sobre a importância de incluir narrativas periféricas e negras nos jogos digitais. Esse encontro marcou a transição de Rafael para uma visão mais social e política do design de jogos, entendendo-o não apenas como uma forma de entretenimento, mas como uma plataforma potente para discutir temas relevantes.

Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, um episódio curioso chamou sua atenção: a semifinal do reality show “Big Brother Brasil”, que contava com a presença do ator Babu Santana. Inspirado nesse momento, Rafael criou um jogo com uma narrativa que remeteu ao contexto social e cultural da situação, e o jogo rapidamente viralizou. Ele foi destaque em veículos como G1 e Jovem Nerd, e esse sucesso o colocou em evidência na indústria de jogos, ampliando seu reconhecimento e seu público.
O reconhecimento veio com novas oportunidades. Rafael passou a ser procurado por empresas e organizações para desenvolver jogos e campanhas publicitárias em pixel art. Ele trabalhou com marcas de renome, como Netflix, e colaborou com projetos de grande impacto social, como a criação de um jogo para divulgar uma ação de distribuição de cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade durante a pandemia. Esse projeto foi um grande marco, demonstrando como os jogos podem ser usados para engajamento social e mobilização comunitária, arrecadando cestas básicas para mais de mil famílias.

A partir dessas experiências, Rafael foi convidado a atuar na educação, transmitindo seus conhecimentos para a formação de novos profissionais da área de jogos digitais. Ainda em 2020, ele recebeu o convite de uma ONG, o Instituto Criar, para lecionar programação, design e jogos digitais. Com o apoio da coordenadora pedagógica da instituição, Rafael abriu um núcleo de tecnologia e jogos, desafiando-se ainda mais ao ensinar jovens da periferia sobre o design e a criação de jogos. “O meu trabalho sempre vai falar sobre a periferia de uma forma ou outra. Isso é quase que o meu DNA”, define.
A trajetória de Rafael na indústria de jogos foi sempre marcada por desafios relacionados à sua origem e à falta de representatividade em um setor elitizado. Porém, ao longo dos anos, ele encontrou espaços para discutir e criar jogos com uma visão mais inclusiva e política. Sua vivência na periferia, a paixão pelos videogames e o desejo de promover a negritude e a cultura periférica nos jogos se tornaram aspectos centrais do seu trabalho, impulsionando-o a buscar sempre mais e a não desistir, mesmo diante das adversidades.
Hoje, como freelancer, Rafael Braga é reconhecido pelo seu trabalho no design de jogos digitais, principalmente na pixel art. Ele acredita que os jogos são uma ferramenta transformadora, podendo ser usados como uma plataforma para resistência e para a construção de novos imaginários culturais. Seu trabalho é uma prova de que, através da arte e da criatividade, é possível construir um espaço de inclusão e representatividade, ressignificando a forma como os jogos digitais podem impactar a sociedade.