Os jogos no Oriente Médio: Shatranj, Senet e Mancala

Os jogos no Oriente Médio: Shatranj, Senet e Mancala

O Oriente Médio é a região localizada na porção oeste do continente asiático, cobrindo diversos países, dentre eles Arábia Saudita, Egito, Israel, Iraque, Síria e Turquia.  Berço de grandes vertentes religiosas, como o cristianismo, islamismo e judaísmo, o território é um dos mais conflituosos do mundo, justamente por causa dos conflitos culturais originados após a queda do império turco-otomano, e pela sua posição geográfica que está no ponto de contato entre três continentes (África, Europa e Ásia).

Carregando fortes aspectos religiosos, a região reflete seus traços culturais nas mais diferentes situações e aspectos, incluindo os jogos. As diferentes conquistas regionais e quedas de impérios fizeram com que zonas se juntassem e separassem, o que levou a uma troca de culturas e disseminação de práticas, assim como a dos próprios jogos.

Shatranj

O Shatranj é uma forma antiga do Xadrez, derivado do jogo indiano Chaturanga, já falado aqui na Gamegesis. Entre 638 E.C. e 651 E.C., houve a conquista muçulmana da Pérsia e, com isso, as culturas acabaram se associando, incluindo a prática do Shatranj por toda a região.

A própria palavra Shatranj possui uma etimologia da palavra Chaturanga, que se modificou devido a uma evolução fonética do persa para o árabe. Essas e outras informações sobre o jogo foram escritas em livros de Xadrez entre o século VII E.C. e XIV E.C.. Os principais manuscritos são de jogadores mulçumanos que se tornaram famosos na época, como Al-Adli, Ar-Razi, As-Suli e Al-Lajlaj. Essas bases que falam sobre movimentos, história e até peças do jogo são reunidas e referenciadas em três capítulos de A History Of Chess, de Harold Murray, livro este utilizado como referência para este artigo.

O jogo se parecia bastante com o Xadrez atual: o tabuleiro era composto por quadrados 8×8 e cada jogador possuía 16 peças, geralmente verdes e vermelhas. As peças eram compostas por um Shah ou Xá (Rei), um Firzan (Ministro, que seria a Rainha do Xadrez atual), dois Fils (Elefantes, que seriam os Bispos), dois Faras (Cavalos), dois Rukhs (que seriam as Torres) e oito Baidaqs (Soldados, que seriam os Peões). 

De acordo com o site francês History of Chess e com o próprio Murray, os movimentos do Xá, Faras e Rukh são exatamente iguais aos do Rei, Cavalo e Torre modernos, porém sem a presença de roque. Assim como no Xadrez, o Baidaq também se move e captura como o Peão e se torna Firzan ao chegar do outro lado do tabuleiro, mas o passo duplo inicial não existe. Já os movimentos do Firzan e do Fil são mais limitados do que os da Rainha e Bispo, podendo se mover apenas diagonalmente, sendo um passo para o Firzan e dois passos com possibilidade de pulo para o Fil. A forma de vencer o jogo também é parecida com a do Xadrez atual, sendo através do xeque-mate; deixando o Xá isolado com todo seu exército já capturado; ou empate, quando o único movimento possível é colocar o Xá em captura.


Ainda segundo Murray, além de serem os melhores praticantes e terem feito os manuscritos, tanto Al-Adli quanto As-Suli criaram classificações de jogadores de acordo com sua força de jogo. Ambos eram Aliyat (ou aliya ou grandee), os jogadores nobres. Os Mutaqaribat, (ou proximes) eram jogadores da segunda classe, que podiam ganhar de dois a quatro jogos em dez, numa partida contra o grandee. Essas eram as duas classificações principais e superiores. Para determinar a classe de um jogador, uma partida era realizada com um membro de uma classe conhecida. Se o jogador ganhasse sete ou mais jogos em dez, ele pertencia a uma classe superior.

Conjunto de peças do Shatranj, datadas do século XII | Foto: New York Metropolitan Museum of Art

Senet e Mancala

O Senet é um dos jogos de tabuleiro mais antigos já registrados, tendo sua origem no Antigo Egito. Encontrado por meio de escavações arqueológicas, testes dataram o jogo entre 3500 A.E.C. e 3100 A.E.C, embora  existam alguns hieróglifos de tabuleiro Senet da Primeira Dinastia (3100 A.E.C.), indicando que ele pode ser ainda mais antigo. 

Indo além da simples diversão, o Senet possuía uma representação religiosa: a etimologia do nome do jogo significa “passagem”. Suas regras e sentido nunca foram descobertas claramente, embora estudos apontem que a jogabilidade representa a passagem dos povos egípcios para a eternidade após a morte, enfrentando possíveis perigos e forças do mal que pudessem impedir a chegada.

Já  Mancala é o nome genérico de uma família de jogos de tabuleiro que foram jogados em vários lugares diferentes. A história desse tipo de jogo não é tão clara, mas suas primeiras evidências foram descobertas em Israel, na cidade de Gedera, por volta dos séculos II e III. Também foram encontrados fragmentos de um tabuleiro de cerâmica e cortes de rocha na Etiópia, datados por arqueólogos entre os séculos VI e VII. Com isso, alguns estudos apontam sua origem por volta de 300 E.C., nos países africanos.

Tanto Senet quanto a família Mancala já foram descritos aqui na Gamegesis, na nossa série especial sobre a história dos jogos de tabuleiro. Para saber mais sobre regras e jogabilidade, basta acessar nossas matérias.

Tabuleiro de Senet sendo jogado pela Rainha Nefertari | Fonte: Popular Mechanics/Dea/G. Dagli Orti /Getty Images

Logo mais, aqui na Gamegesis, você confere nossa segunda e última parte dos Jogos no Oriente Médio, onde você confere outros jogos que surgiram naquela região!

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