O Oriente Distante – Índia e as origens do Xadrez
ASHTAPADA, CHATURANGA E XADREZ
Terra de diversos mistérios, a Índia aparenta ter sido o berço de muitos jogos de tabuleiro importantes para a humanidade, dada a manutenção da popularidade até os dias correntes de diversos jogos que surgiram na antiguidade. Foi na Índia, inclusive, que tivemos a origem de um dos jogos de tabuleiro mais populares do mundo: o Xadrez!
Em seu início, o Xadrez era conhecido por outro nome e tinha algumas diferenças com o jogo que temos atualmente. Devido às imprecisões de informações documentais na Índia, é difícil estipular uma data para o nascimento do predecessor do Xadrez: o Chaturanga! Foi somente quando as escrituras começaram a trazer temas seculares é que os tabuleiros que eram utilizados para jogar o Chaturanga, e outros jogos populares, foram descritos. Os termos Ashtapada e Dasapada foram empregados pela primeira vez no século II da Era Comum (EC).
O Ashtapada é um jogo indiano que utilizou pela primeira vez o tabuleiro quadriculado, que foi o precursor do que é usado hoje no Xadrez. As principais diferenças eram um tabuleiro monocromático, ou seja não possuía duas cores alternadas em cada quadradinho, como é o caso do Xadrez; e o fato do tabuleiro possuir casas marcadas, chamadas de “castelos”, onde os jogadores estavam protegidos de serem capturados ou retirados do jogo pelos adversários.
O Ashtapada podia ser jogado por duas ou quatro pessoas e usava dados para determinar o movimento de cada jogador. O significado do nome é a quantidade de quadrados por linha, que deve ser sempre oito, já o Desapada é o mesmo jogo, mas possui dez quadrados por linha. No Ashtapada e Desapada, cada jogador recebe um número par de peças e deve percorrer com elas por todo o tabuleiro no sentido horário e retornar para o seu castelo em segurança, e fazer o trajeto novamente, mas dessa vez no sentido anti-horário até atingir o centro.
O Chaturanga, por utilizar o mesmo tabuleiro do Ashtapada, não possui as distinções de casas que estamos acostumados com o Xadrez moderno, sendo o tabuleiro todo monocromático..
A primeira vez que o termo apareceu em escrituras foi no livro sagrado RigVeda, o documento mais antigo da literatura hindu: estima-se que ele foi escrito entre 1700 e 1100 A.E.C, mas não é possível afirmar que a palavra foi utilizada para se referir ao jogo, contextualmente diz respeito às quatro partes do corpo humano. Etimologicamente, chaturanga significa quadripartido, chatur: quatro, e anga: membro. A partir do século cinco E.C, a palavra vinha sempre acompanhada da palavra “bata”, que significa exército, ou seja, indica um vínculo com as temáticas militares.
Esses quadripartidos referenciam a estrutura do exército que era utilizado desde o século seis A.E.C, com bigas, elefantes, cavalaria e infantaria, descritos no Ramáiana, no Mahābhārata e no Amarakosa, importantes textos hindus, e em relatos gregos da invasão de Alexandre o Grande (356-323 A.E.C). Já o historiador Megástenes afirma que havia seis divisões no exército: Elefantes, Bigas, Cavalaria, Soldados, Suprimentos e Barcos.
Apesar do tabuleiro do Chaturanga não apresentar cores distintas, as peças apresentam: há o time das cores brancas e o time das cores pretas. A formatação é bastante parecida com a do Xadrez moderno, mas há diferenças, o rei por exemplo não ocupa a mesma casa espelhada do adversário. Ou seja, o rei branco começa na casa “E1” e o rei preto na casa “D8”.
Conheça as peças, seus movimentos e nomes originais:
- O rei (Ràja) pode se mover por apenas uma casa para qualquer direção, além disso pode também fazer um único movimento de cavalo durante a partida, desde que não tenha sido ameaçado antes, ou seja colocado em cheque;
- O conselheiro (Mantri) pode se mover uma casa na diagonal;
- O elefante (Gaja) move duas casas na diagonal, podendo saltar uma peça que esteja no caminho, assim como o cavalo;
- O cavalo (Ashva) se move em “L”, fazendo um movimento equivalente à diagonal de um retângulo de 3×2 casas;
- A torre (Ratha) move-se para a frente, para trás ou para os lados, quantas casas o jogador quiser;
- O peão (Padàti/Bhata) move-se uma casa para a frente, e captura em uma casa para a diagonal, não anda ou captura nenhuma peça que esteja atrás.
O objetivo do Chaturanga é o mesmo do Xadrez: capturar o rei inimigo. Os peões também podem realizar o movimento de ressurreição ao chegarem ao outro lado do tabuleiro, mas diferente do Xadrez, eles não podem escolher qualquer peça para trocarem com o peão, somente aquelas que se encontravam inicialmente na casa ocupada, ou seja, se havia um cavalo ali, é essa peça que o peão se tornará, caso essa peça tenha sido capturada, senão o peão continua como peão. Outro detalhe importante, é que no Chaturanga não existe o movimento de roque!
O Chaturanga também pode ser jogado por quatro pessoas, elas formam duplas e tentam capturar os dois reis dos adversários, mas nessa modalidade há apenas quatro peões, um rei, um barco, um elefante e um cavalo por jogador. Confira o vídeo abaixo explicando o funcionamento do jogo:
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