Jogos adventure, flash e puzzles: o início das Escape Rooms

Jogos adventure, flash e puzzles: o início das Escape Rooms

De que forma jogos como Myst e Crimson Room definiram a explosão desse novo estilo de jogo de enigmas

As escape rooms são um tipo de jogo de resolução de enigmas com trabalho em equipe | Foto: Escape Room Builders/Arquivo

Você e seu grupo são trancados em uma sala para resolver uma série de enigmas diversos, desde charadas, senhas e enigmas dentro de outros enigmas que se conectam de diversas formas para, em um período de tempo, solucionarem o problema central e conseguirem escapar. Essa é a maneira mais resumida de definir um modelo de jogo físico que explodiu em popularidade na última década e ainda cresce pelo mundo.

As Escape Rooms, como conhecemos hoje, surgiram no fim da década de 2000 no Japão. Com experimentos anteriores em diversos lugares no mundo, mas não propriamente estabelecidos como Escape Rooms, a explosão dessas salas aconteceu em 2013, indo primeiro para a Europa, iniciando na Hungria, se espalhando para o resto do continente e depois para o mundo todo, inclusive com diversas salas nos grandes centros urbanos brasileiros. Mas de onde surgiu a inspiração para esse novo estilo de jogo físico e mental?

A cultura pop e a ficção sempre tiveram suas histórias sobre escapar de locais indesejáveis ou de conseguir algum tesouro escondido em algum lugar distante, cheio de enigmas e armadilhas. Os exemplos vão desde fugas de prisões, como o filme Fuga de Alcatraz com Clint Eastwood, ao arqueólogo e ladrão de tumbas Indiana Jones. Mas foram nos jogos adventure que o estilo de resolver enigmas imersos em um mundo ficcional, com temáticas diversas, explodiram.

O boom dos jogos adventures

Os primeiros adventures eram jogos de texto onde os comandos eram escritos para resultarem em ações no jogo | Foto: Wikipedia/Arquivo

Os jogos de adventure surgiram logo no início da indústria dos jogos de computador. Computadores de universidades, além de voltados à pesquisa, também rodavam  jogos desenvolvidos para a plataforma, para testar a tecnologia e gerar uma forma de lazer dentro dos centros de pesquisa. Foi assim que surgiu o jogo Colossal Cave Adventure, narrando em texto, como um mestre de RPG de mesa,  uma aventura de exploração a uma caverna fantasiosa, com criaturas mágicas e desafios. 

O desenvolvimento de outros jogos de texto baseados em Adventure, como Zork, serviram de inspiração para as décadas seguintes. Incorporando os elementos de texto em gráficos cada vez mais avançados, aliando  os puzzles, ou enigmas, a esses avanços, foram criados mundos mais imersivos e narrativas conectadas com esses desafios. Durante o avanço desse gênero, que criava as suas raízes nos computadores, e com o auge dos jogos adventures nos anos 90, um jogo com uma ambientação misteriosa, produzido por um pequeno estúdio, ganhou a atenção dos jogadores da época: Myst.

Myst foi um dos jogos de computador mais impactantes de sua época por sua tecnologia e por sua narrativa | Foto:

Produzido pela Cyan, fundada pelos irmãos Miller, Myst foi um marco do universo dos jogos digitais. Era um adventure com a história misteriosa de como o personagem principal foi arremessado em uma ilha desabitada, com objetos e construções que não faziam sentido se soltas, mas que juntos eram peças de um grande quebra-cabeças que, ao ser resolvido, desenrolava cada vez mais a história de um conflito envolvendo magia, portais e uma família de uma raça alienígena. Com um foco completo em puzzles complexos e entrelaçados com a  narrativa, com cada um dos enigmas levando o caminho a eras e mudando os próprios paradigmas estabelecidos, o jogo se tornou um sucesso de venda e se manteve na lista de jogos de computador mais vendidos por um longo período.

Com seus fortes elementos de enigmas,  esses jogos da “era de ouro” dos adventure, influenciaram uma geração de novos desenvolvedores e fãs de jogos. Aliado ao desenvolvimento de uma nova tecnologia para a reprodução de mídia digital em computadores, todo um novo cenário de jogos foi desenvolvido.

Nesse contexto, o Adobe Flash Player foi um divisor de águas na produção de conteúdo para navegadores web.  Gratuito para os usuários no formato de freeware, com a possibilidade de animações, vídeos, áudio e gráficos, a plataforma foi abraçada pela comunidade de designers de jogos, que começaram a produzir jogos em  flash, distribuindo-os de graça em plataformas web, criando toda uma cultura baseada neles. E no meio desses jogos, alguns sofisticados e outros mais crus, surge  aquele que fez com que o ato de escapar de uma sala se estabelecesse como um tipo de jogo específico: o Crimson Room.

A onda dos jogos em Flash e o gênero de Escape Rooms movimentaram a primeira década de 2010 | Foto: Rock Paper Shotgun/Arquivo

Produzido em 2004 pelo produtor de jogos japonês Toshimitsu Takagi, o game se inspirou diretamente em clássicos adventures como Myst, mas focando no aspecto de estar preso em uma sala e usar os objetos presentes nela para conseguir escapar. Esse conceito gerou toda uma movimentação de designer de jogos em flash para produzirem outros  semelhantes, com temáticas diversas, como investigação, fuga da prisão, terror e outros ambientes presentes no imaginário popular. O principal foco desse estilo de jogo eram os enigmas, cada vez mais complexos e desafiadores, chegando a níveis que beiram o impossível até para os jogadores mais investidos nos quebra-cabeças. Também inspirados no curioso estilo de jogos de navegadores web, em 2007, a empresa japonesa SCARP produziu o que se tornou o modelo de jogo para a construção das Escape Rooms.

A diferença dos jogos de computadores no estilo, em relação ao modelo físico das salas, era o fato de serem, em sua concepção, solitários e individuais, enquanto a sala física seguia a proposta de ser em grupo, exigindo a cooperação e a comunicação entre os participantes e a possibilidade de mais desafios. No entanto, todos têm o mesmo elemento central para a construção desses jogos: os puzzles ou enigmas.

Os puzzles, enigmas e quebra-cabeças

Os puzzles ou enigmas são parte essencial do cotidiano da cultura humana | Imagem: Freepik.com/rawpixel.com

Os enigmas estão presentes como jogos desde o início da cultura humana, com relatos datando da Grécia Antiga e de outras civilizações da antiguidade, sendo desenvolvidos sobre temas como adivinhações, história, lógica, matemática e outras áreas do conhecimento e da mente, questionando os limites da resolução de problemas dos indivíduos e dos grupos sociais que usam desses jogos mentais para se divertir, aprimorar os seus conhecimentos e ensinar aos outros sobre as histórias do seu entorno. 

Ao colocar os puzzles no contexto dos jogos da atualidade, é possível reconhecê-los e analisá-los utilizando as diversas ferramentas providas pela Gamegesis. Isso auxilia na produção de um jogo e se torna parte integrante do desenvolvimento dele por seu designer, que conseguirá se organizar e definir objetivos precisos para que seu jogo funcione como planejado, conseguindo modificar partes e adaptar o que já estava construído, sem quebrar toda a montagem do jogo.

Agora você já conhece as origens desse curioso estilo de jogo físico, que une a resolução de problemas aos desafios e enigmas de diversas áreas de conhecimento e da lógica, aliados ao trabalho em equipe. Nossa proposta era justamente destacar os elementos das Escape Rooms, como a cooperação, a liderança e a comunicação, para, nos próximos textos, contar a história de como o formato se espalhou pelo mundo de maneira tão rápida e como ele se define em várias formas, temáticas e narrativas, além de analisar de que forma seus formatos se adaptam ao redor do mundo.

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