Desde novembro de 2024, o Senado brasileiro está conduzindo uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar ações realizadas por uma indústria que se aproveita da ingenuidade de indivíduos ao prometer ganhos fáceis e rápidos, enquanto subtrai valores de suas economias. A então chamada CPI das Bets é uma ação importante, e é necessário reforçarmos a mensagem de que aposta não é jogo.
Embora as 16 primeiras reuniões não tenham recebido a mesma atenção da mídia quanto à 17ª reunião, ocorrida no dia 13 de maio de 2025 — protagonizada por uma influenciadora digital que divulga os serviços de uma das empresas dessa indústria com a promessa de retorno vultoso —, esta evidenciou pelo menos três situações preocupantes.
Para a campanha Aposta não é Jogo, é alarmante observar como, tanto os parlamentares quanto a influenciadora, se referiram aos atos de apostar ou aos aplicativos de aposta. Todos mencionaram os termos “jogo” ou “jogar”, alimentando a desinformação e mantendo a confusão entre ambas as atividades. É necessário que nos dirijamos a esses parlamentares para que utilizem corretamente a terminologia referente às atividades fomentadas por esses produtos. São apostas, não jogos. Tais usuários, com esses produtos, não jogam, eles apostam.
A situação mais evidente foi comunicada de forma sutil, mas efetiva, pela escolha de como se apresentar perante um ambiente formal. Trajando um moletom preto com a estampa da imagem de uma de suas filhas — como amplamente divulgado pela mídia —, a influenciadora transmitiu três possíveis interpretações, não mutuamente exclusivas, em relação à gravidade do motivo pelo qual foi convidada a depor: descaso, desconhecimento ou ignorância, com uma possível demonstração de desdém diante da situação. Sobre esse episódio, comunicadores experientes em semiótica — o estudo das simbologias — podem oferecer análises mais aprofundadas.
Também foi preocupante a forma como os participantes se dirigiram uns aos outros durante a sessão. A gravidade da situação dificilmente seria reconhecida pelo tom informal das falas, pelo comportamento da depoente, pela maneira como ela se referia aos senadores — em especial à senadora Soraya Thronicke —, ou ainda pela forma com que parlamentares “tietavam” a influenciadora. Trata-se de uma situação que evidencia a desigualdade com que os “representantes do povo” lidam com diferentes representações. Um indígena, um operário, um sem-teto, na mesma situação, receberia o mesmo tratamento?
Insistir na terminologia “jogo” para os aplicativos de apostas é minar e desmerecer a importância que os jogos, de fato, têm para a sociedade. É desvalorizar toda uma indústria que movimenta diversos setores da economia, com potencial de contribuir para a disseminação da cultura nacional, seja internamente ou internacionalmente.
Vamos educar nossos representantes a agirem corretamente e a se referirem aos produtos e às atividades promovidas por eles de maneira adequada. Afinal, “Aposta não é Jogo”. E devemos exigir que não haja parcialidade nos tratamentos, como ficou evidente.
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Joguemos!
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