No dia 21 de julho de 2025, a Secretaria da Cultura, Economia e Indústrias Criativas do Governo do Estado de São Paulo apresentou oficialmente as diretrizes do Plano Estratégico para a Indústria de Games do Estado de São Paulo. O evento ocorreu no auditório da Secretaria, localizado na Rua Mauá, 51, bairro Campos Elíseos, na capital paulista, com a presença da Hiperespaço Logicware Consultoria LTDA, principal patrocinadora e viabilizadora do projeto Gamegesis, participando do encontro.

Horácio Corral, da Tacet Books e Critical Hit Books, e Rodrigo Domingues, da Hiperespaço Logicware
O início do evento foi marcado por uma confraternização descontraída entre representantes da indústria de jogos eletrônicos, de instituições de ensino e da indústria de jogos de tabuleiro, com um café da manhã oferecido pela Secretaria. A recepção começou às 9h, em clima de expectativa diante do anúncio e do interesse em compreender como os investimentos planejados serão aplicados.
Às 10h, teve início a apresentação oficial, conduzida pela secretária Marília Marton, acompanhada de Rodrigo Terra (presidente da Abragames), Marcelo Rigon (presidente da ACJogos-SP) e Bruno Pato (presidente da XRBR). Cada representante fez uma breve fala sobre a relevância do setor de games para a economia criativa, antes da exposição das diretrizes iniciais da política pública.
Serão disponibilizados aproximadamente R$ 8,2 milhões em recursos diretos por meio do Fomento CULTSP, divididos em três categorias, com projetos de até R$ 300 mil. Além disso, o setor será contemplado em editais que utilizam o modelo de financiamento indireto via PROAC ICMS.
Mais informações estão disponíveis no site da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativa do Estado de São Paulo:

Após a apresentação, foi aberto um espaço de escuta com os participantes, incluindo representantes da indústria e de instituições de ensino, para que compartilhassem suas preocupações, propostas e dúvidas. Dentre os temas levantados estiveram:
- pedidos por maior investimento em jogos do tipo AAA;
- melhores condições para estúdios já contemplados por editais que, apesar de terem produtos finalizados, ainda enfrentam dificuldades financeiras;
- propostas de bolsas para estudantes de baixa renda em cursos profissionalizantes, a fim de evitar evasão;
- sugestões para a formação de um ecossistema criativo entre estados, com programas interestaduais.

Todas as manifestações foram ouvidas. Algumas receberam maior atenção — como a proposta de uma categoria específica para localização de jogos, feita por Horácio Corral, editor da Tacet Books e Critical Hit Books, que entregou o livro do jornalista Pedro Zambarda, do portal Drops de Jogos à secretária —, enquanto outras, como a nossa sugestão de colaboração multiestados para o fortalecimento nacional do setor, foram acolhidas com mais cautela, diante das limitações do modelo federativo brasileiro.
Ao final do evento, após a tradicional foto oficial, tivemos a oportunidade de entrevistar a secretária Marília Marton sobre pontos específicos da iniciativa.
Na entrevista, ela destacou que o plano pretende dialogar com todo o estado de São Paulo, e não apenas com empresas da capital, propondo um desenvolvimento descentralizado e regionalizado, essencial para a ampliação cultural.
O processo de escuta, segundo a secretária, será recorrente e direto, com foco na transparência, evitando estruturas engessadas como conselhos consultivos. O objetivo é manter um canal de diálogo constante com os principais interessados: os desenvolvedores e as comunidades do setor.
Além disso, ela reforçou que os jogos eletrônicos envolvem múltiplas dimensões — cultura, tecnologia, educação, comunicação — e exigem ações intersecretariais. Já há diálogo com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação, por exemplo.
Por fim, a secretária apontou como fundamental o investimento em capacitação técnica e profissionalizante, ainda não contemplado no plano diretor, mas que será incorporado para garantir a sustentabilidade da indústria com profissionais qualificados.

Testemunhar esse marco foi um privilégio. Esperamos que outras unidades federativas e o próprio Governo Federal sigam o exemplo de São Paulo no apoio ao setor de jogos eletrônicos — um setor estratégico da cultura digital brasileira.
Segue a entrevista transcrita. Até a próxima… e joguemos!

Há planos para a criação de incubadoras, polos ou hubs regionais de desenvolvimento de jogos em outras cidades do Estado, visando a descentralização e interiorização da indústria?
Sim, a gente, através do CultSP Pro, agora, a gente está trabalhando pra criação de um Hub que vai impulsionar empresas do interior. Inclusive porque eu tive uma experiência, particularmente aí no começo do ano, em que a gente foi pra Jaborandi, que é uma cidade no interior, próximo a Barretos, e lá a gente encontrout cinco jovens que montaram uma empresa, cláro, é uma empresa juvernil, júnior, e que estão desenvolvendo jogos e que cada um é um setor de sua própria empresa. Isso é magnífico e a gente sabe da importância que tem a questão das incubadoras no sentido de tutora e impulsionar essas próprias empresas.
O plano contempla mecanismos para facilitar o acesso das desenvolvedoras paulistas ao mercado internacional, como acontece com as políticas de exportação na Polônia e na Eslovênia ?
É, na verdade, a gente tem, o plano está sendo construído e agora ele vai ser validado com vocês. A gente tem uma base desse plano e a partir da conversa que foi feita hoje a gente vai melhorar o plano, né! Enfim, deixa-lo mais próximo daquilo tudo que vocês nos apresentaram, vendo coisas que, por exemplo, estavam faltando e que a gente pode encaixar. A gente vai validar isso tudo no nosso setor, mas a ideia da internacionalização, a ideia já existe, né. A gente já viaja desde 2022 com empresas para que as empresas possam fazer essas co-produções ou simplesmente apresentarem os seus projetos de forma internacional. É claro que isso não acaba. Quando a gente fala de criação de fundos, fundos especiais, a gente também está indo atrás de parceria internacional para que a gente possa compor fundos para além dos recursos nacionais também de forma descentralizada mundialmente, poder ter produtos brasileiros, em co-produção, também ser desenvolvidos no âmbito com outros países. Claro, aqui a gente teve uma proposta de criação conjunta de produtores do estado brasileiro para criarmos um grande jogo. Uma proposta que veio hoje, estamos estudando isso, inclusive incrementando já com algum fundo internacional em que estamos em parceria.
Como será feita a escuta contínua da comunidade de desenvolvedores e profissionais do setor ao longo da implementação do plano? Haverá conselhos consultivos ou fóruns permanentes?
Não, nós trabalhamos com câmara setorial. A ideia dela é que participe todo mundo. Não quisemos criar um conselho consultivo, com pessoas eleitas e representantes. Entendemos que as entidades estão já constituídas a partir do movimento, mas queremos a proximidade com todo o setor. Quem tiver que falar e não se sentir representado de alguma forma pode ter uma voz direta para externar suas preocupações. Por isso, o estado optou pela ideia de câmara setorial de forma realmente democrática, abraçando o maior número de pessoas possíveis.
O governo estadual pretende integrar o setor de games às políticas de inovação, ciência e tecnologia? Haverá diálogo intersetorial com outras secretarias?
Total! E é necessário que haja. Vimos a manifestação da Fatec, vinculada com a Secretaria de Ciência e Tecnologia. Conversamos bastante com o professor Vahan, secretário de ciência e tecnologia, que também abraça as universidades, esse é um próximo passo que precisamos dar. a secretaria de cultura já se estruturou, porque é um primeiro passo, porque jogos está mais próximo da cultura. Já nos estruturamos, nos aproximamos do setor, e agora passamos para a secretaria da ciência e tecnologia para falar da questão da inovação, e como a gente se aproxima da secretaria de educação, como vimos um colega mencionar a dificuldade de conversar. E eu acho que isso, a secretaria abraçada a partir do plano estadual, com a câmara setorial como a gente faz essa interface internamente com o governo e com o próprio desenvolvimento econômico, porque a gente está entendendo que a gente está falando de uma indústria.
Tem algum assunto que eu não perguntei e que você gostaria de comentar?
Eu achoi que a questão da formação. Acho que essa é uma questão pontual pra secretaria. A gente tem batalhado bastante para ter uma formação que esteja condizente com o setor, que atenda às necessidades do setor. A gente viu a Fatec com dificuldades porque as universidades têm vínculo com conselhos estaduais, que sempre que precisam mexer na grade curricular (tem uma burocracia). A gente tem a facilidade na secretaria de cultura de ter uma universidade livre. Vimos uma das representantes das fábricas de cultura dizendo que perceberam que colocar aula de sábado de uma vez só era melhor que duas vezes à noite. Isso é algo que temos facilidade de ajustar conforme a demanda, e conforme a demanda dos produtores, das publishers, quais são os profissionais em falta e que precisam ser resolvidos agora. É uma dinâmica que a secretaria entendeu e que não é só sobre o setor de Games, isso é uma escola, uma universidade livre de cultura para o setor de cultura.