Durante o período de isolamento social, causado pela pandemia de COVID-19, muitas pessoas viram nos jogos uma saída para se divertirem e até mesmo estarem em contato com seus amigos de forma virtual. De acordo com uma pesquisa feita na metade de 2020 pela empresa americana Verizon, naquela época já havia um aumento de 75% de usuários de jogos online, além do acesso ao streaming de vídeos também ter aumentado em cerca de 20%.
A indústria gamer não parou e vários lançamentos já aguardados saíram, seja para console, pc ou celular, como foram os casos de The Last Of Us II, Cyberpunk 2077, Watch Dogs: Legion, Resident Evil 3, FIFA 2020, Fall Guys, Valorant, entre outros. Além disso, vários jogos voltaram à tona e aumentaram os números de usuários, como League of Legends, Among Us, Minecraft, e os clássicos de battle royale, Fortnite, Free Fire e PUBG, além de Counter Strike, como pode ser conferido nas lojas de download.
A busca pelo contato com os amigos fez com que alguns jogos se tornassem uma febre nos últimos meses e caíssem no gosto popular, como o Among Us, Fall Guys, e até os clássicos Ludo e Gartic. Com isso, surgiram algumas discussões, principalmente nas redes sociais, sobre como jogos que possuem ótimos gráficos e estavam sendo aguardados a tempos, como The Last Of Us, não estavam atingindo a visibilidade que os jogos ditos “mais simples” estavam. Isso pode ser justificado pela diferença entre jogos de progressão e jogos de emergência, além dos fatores econômicos e sociais.
Jogos de Progressão x Jogos de Emergência
Os jogos de progressão são aqueles em que o jogador é conduzido no processo de jogar, sendo apresentado a diversos desafios e guiado em ações lineares, muitas vezes contando alguma história, com a liberdade de voltar em etapas anteriores já progredidas. Nesse tipo de jogo, a manifestação do conflito e da dificuldade é projetada, podendo aumentar a cada etapa concluída.
Nos jogos de progressão, em sua maioria, o jogador é apresentado a uma série de desafios descritos nas regras do jogo, nos quais a repetibilidade acaba sendo muito baixa. Além disso, esses tipos de jogos fornecem um forte controle do designer, já que ele controla os eventos e sequências, possuindo até mesmo aspectos cinematográficos e narrativos. Alguns exemplos são God of War, Uncharted, Assassin’s Creed, Prince of Persia, Tomb Raider, Shadow of the Colossus, e o já citado The Last of Us.
Já os jogos de emergência possuem um conjunto pequeno de regras, nos quais os desafios surgem a partir da interação com as regras, e caso sejam multiplayers, da interação com os demais jogadores. Desse modo, esses jogos podem apresentar variações decorrentes das regras pré-estabelecidas. Um clássico exemplo é o Xadrez, que possui regras bem definidas, mas que gera diferentes resultados a cada partida.
Além disso, a emergência pode ser usada como um termo para definir situações ou comportamentos do jogador que não foram previstos pelos designers. Assim, existem algumas diferenças entre os jogos emergentes, podendo ser de combinação, como o caso do Grand Theft Auto (GTA), que combina progressão e emergência; de interação, como os já citados Free Fire e Among Us; ou de verdadeira emergência, como o clássico Tetris.
Desse modo, a principal diferença é que jogos de progressão possuem desafios separados, apresentados em séries, enquanto os de emergência possuem regras simples combinadas para formar uma variação. Além disso, a árvore narrativa dos jogos de progressão possui a mesma estrutura, independente de quantas vezes o jogo é jogado, enquanto a dos jogos emergentes se manifesta naturalmente de acordo com as ações do jogador, sendo diferente a cada partida.
Tendo em vista isso, um jogador muitas vezes acaba sendo atraído por jogos de emergência, pois a cada partida ele vivenciará algo novo, que pode se tornar ainda mais dinâmico se estiver em contato com jogadores novos a cada partida, como nos jogos de FPS. Já nos jogos de progressão, ao serem finalizados, os jogadores já sabem toda a linha narrativa, e mesmo que alguns pequenos pontos mudem, como modos mais difíceis ou lugares novos liberados, a essência é a mesma, o que nem sempre atrai o jogador a jogar novamente logo após terminar pela primeira vez.
Demais fatores
Além da grande diferença entre jogos de progressão e emergência, alguns fatores devem ser levados em consideração ao se questionar porque alguns jogos são mais jogados que outros.
O primeiro deles é a plataforma. Jogos de celular são muito mais acessíveis que jogos de console, por exemplo. Primeiramente, pelo fato das pessoas já usarem o celular para outros fins, o que faz com que a grande maioria já possua um. Outro fato são os valores. Um Playstation 5, atualmente, está na faixa de R$4600,00, sendo que o The Last Of Us II custa por volta de R$230,00, por exemplo. Em uma realidade como a do Brasil, em que o salário mínimo é R$1100,00, é natural que jogos gratuitos de celular, por exemplo, sejam mais populares que lançamentos para consoles.
Outro fator é a interatividade. Em um momento como o atual, de isolamento social, muitas vezes uma simples partida online de Ludo com os amigos acaba se tornando mais divertida que passar horas em um Resident Evil, claro, levando em consideração também o gosto de cada jogador. O grande sucesso de streamers, que fazem vídeos e lives jogando Free Fire ou Dead by Daylight, por exemplo, está justamente na interação com novos jogadores a cada partida, nas discussões, histórias e risadas que acontecem. Um vídeo de battle royale sem som não terá a mesma visualização que um vídeo em que quatro pessoas desconhecidas estão jogando juntas.
Desse modo, percebe-se que nem sempre um “bom gráfico” ou história irá atrair um jogador. O preço, a condução da jogada e até a finalidade que o jogador busca ao acessar uma partida terão pesos iguais, o que explica também o porquê de jogos considerados simples fazerem tanto sucesso.
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